segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Então eu chamei a mim mesmo, invocando os deuses da trepadeira. Quando comi a semente entrei no desconhecido de mim mesmo.
Olhei no espelho, e o espelho em si era eu mesmo.
Começou, meu corpo estatelado no colchão e a minha mente voando por cima de si.
Senti medo e pedi a ajuda de um velho sábio, e foi nesse momento que tudo se inundou de luz.
O gozo veio e se apoderou de mim; eu aguardava, pacientemente, extasiadamente, eretamente, uma mulher entrar pela porta e fazer um filho comigo ali mesmo.
Ela não veio, então os pensamentos começaram a pairar e sobrevoar tudo que até então não estivera ali.
De repente entendi, eu gay, era como Cazuza e morreria de Sida.
Como eu não tinha percebido aquilo antes? Era tudo tão óbvio, e todos pareciam saber menos eu, como o marido traído, só eu ainda não percebera que era uma bixona, e isso estava na cara mas eu não podia ter olhado daquela forma ate então.
Como tudo e passageiro, tudo passou, ate que recebi a noticia da morte de meu pai.
O mais duro de aceitar, mas a realidade é implacável e não havia como fugir disso também; já havia aceitado muita coisa desde então, e essa barreira estava ali como um muro.
Deixei que ela caísse sobre mim, para que eu me levantasse por debaixo dos tijolos e continuasse a jornada.
Percebi que muitos cairiam sobre mim, e o meu papel era apenas deixar que eles caíssem, para que por debaixo dos escombros eu surgisse empoeirado mas cristalino.
Depois que meu pai morreu, comecei a iniciar o meu treinamento, porque agora soube que seria um mestre, desses em quem as pessoas buscam apoio.
Comecei a minha árdua jornada por não sei quais caminhos, mas eu me preparava e logo seria um Mestre.
Achei que tudo havia terminado, tentei me levantar, que agora já sabia o que fazer, terminar minha caminhada rumo a maestria, cheguei a sentar no colchão, mas meu corpo embriagado e mole, pesado, me puxou de novo, e disseram, "Calma, ainda tem mais."
Uma voz gargalhou. Eu olhei, envergonhado, e ela continuava. Hi hi hi hi.
Ha ha ha ha ah...
"Então ta meu rapaiz, você e um pai órfão tarado gay aidético e mestre, hi hi hi hi hi".
Uma voz que eu reconhecia muito bem, que não era a minha mas veio de alguém com o mesmo nome, me apontava e dizia:
"Você acredita no que você quiser Joãozim.
Você acredita no que você quiser Joãozim.
Você acredita no que você quiser Joãozim.
Você acredita no que você quiser Joãozim.
Você acredita no que você quiser Joãozim.
No que você quiser Joãozim"... e assim a voz ecoou dentro de mim por tempos e tempos.
Achei que o momento do fim estava iminente, mas faltava a revelação final.
A última das vozes, a definitiva, a que saiu de todos os muros derrubados, e depois de limpada a poeira, era ela que dizia: “Você é homem cara, ouviu, você é HOMEM”. Quando enfim consegui me levantar.
Tomei um copo d’água, morrendo de sede depois de horas chapado extaticamente em um colchão, e sentia cada gota fluindo por meu corpo, a água caindo no estomago, sendo absorvida e virando sangue.
Fui tomar banhos e por horas só conseguia rir porque, como há muito não sentia, eu estava lá.

Nenhum comentário: