domingo, 12 de outubro de 2008

Provavelmente incerto com grande risco de estar errado...

Lá pelas tantas, quando da sua viagem intergaláctica pelo País-Planeta Alphaville, o espião-lenda-homem livre Lemmy Caution, personagem do filme Alphaville de Jean-Luc Godard, conversa com um espião-amigo sobre o que seria Alpha 60, um mega-computador capaz de processar zilhões e zilhões de dados, inventar leis e códigos de moral para manter Alphaville funcionando de acordo com a Lógica.
Eis que então, diante da resposta de seu amigo, Lemmy solta uma frase elementar, "Entendo, as pessoas se tornaram escravas de probabilidades."
Lançado em 1966, o filme é espantosamente atual.
Mas vou me restringir à frase acima.
Boa parte, mas uma parte muito boa mesmo, da pesquisa científica atual é baseada em estatísticas.
Pesquisas sociológicas, exatas ou biológicas, não importa, elas terão como conclusão não raramente a conclusão de que "60%-das-pessoas-entrevistadas-são-favoráveis-à-legalização-do aborto", para citar um exemplo.
A problemática existe na frase de Lemmy Caution.
Políticas públicas, legislações, decisões importantes são tomadas, modificadas e acentuadas com base em estatísticas.
"15% das pessoas de 13 a 20 anos experimentaram maconha e álcool", "boxe nas piscinas de academias ajudam a queimar 400% mais calorias do que outras atividades físicas normais", "a bolsa caiu 40%", e blá blá blá.
Peguemos esses exemplos inventados, quais conclusões podemos tirar deles? Nenhuma. E não porque foram inventados e não passaram por um processo de pesquisa rigoroso, mas sim porque estatística nenhuma pode conduzir à um fato ou à uma certeza.
Durante o filme, um dos habitantes de Alphaville, cientista que contribui para o funcionamento do sistema lógico de Alphaville, diz a Lemmy, "Nós registramos, calculamos, tiramos conclusões";
ou seja, um resumo do processo científico matematizado dos dias atuais.
Não há muito o que dizer e concluir, tudo já foi dito.
Probabilidade não é certeza.