terça-feira, 10 de março de 2009

A televisão narrativa e a fabricação de ídolos

O Corinthians é o time de futebol que mais atrai publicidade para si.
Parece que, de uns 4 ou 5 anos pra cá, algumas contratações se baseiam na publicidade que esses jogadores trarão para o time.
Recentemente, o time contratou Ronaldo, o "fenômeno", com o aparente propósito de dar ao jogador a forma física adequada aos padrões europeus, para que o atacante volte a jogar no velho continente.
Mas apenas o fato de ele estar contratado, já sustenta metade do tempo dos programas de esporte nacionais.
A televisão, notadamente a rede Globo, angaria para si a responsabilidade de promover o Timão.
Dizer que sua postura midiática é conivente com a política da Direção do clube é um eufemismo, uma suavização desnecessária.
A rede Globo é promotora dessa "festa" em cima do Corinthians.
A novela "Ronaldo, o 'fenômeno'", mostra, desde sua chegada ao Brasil, a saga de um herói em busca de sua superação e provável consagração.
As reportagens diárias dão conta do cotidiano do jogador, os seus avanços, as gramas que ele perdeu em um dia.
A reportagem assim, perde seus status de "documento", com intuito apenas de mostrar o que acontece em um grande time de futebol brasileiro, para se transformar em narrativa.
Há uma progressão construída, baseada no fato real de que o jogador precisa primeiro entrar em forma para depois entrar em campo.
Essa evolução narrativa teve o seu desfecho(parcial, é óbvio) no clássico Palmeiras X Corinthians, quando Ronaldo estreou finalmente.
Como nas novelas, a entrada em campo pela 1a vez do jogador foi antecipada de suspense, especulações, torcida pelo triunfo do herói que sofreu, sofreu, e agora terá sua chance de mostrar porque veio ao mundo. O mesmo moralismo contido nos romances românticos do século XIX.
O momento não poderia ser mais oportuno. Um clássico do futebol, o Corinthians sai perdendo, e o herói entra nos 30 minutos finais da partida para salvar o coração sofrido do torcedor.
Alguns lances bonitos e um gol oportunista, de cabeça(como qualquer outro atacante certamente faria), e pronto: "ELE VOLTOU!!".
Os grandes jogos de futebol são cobertos por um sem número de câmeras, que dão conta de cada milímetro do campo. As belas jogadas, os gols, são acompanhados por zooms telescópicos, de diversos ângulos, que proporciona à imagem dos jogadores alguma coisa maior que eles realmente são.
Isso é a linguagem que proveio originalmente do Cinema. Os recursos da câmera dão um recorte da realidade, para propor uma narrativa.
Hoje em dia Cinema e Televisão se usurpam elementos e se fundem entre si, ficando difícil delimitar as fronterias do que é o quê.
A reportagem do dia seguinte ao jogo ocorreu dentro do esperado: mostrou o craque em seus parcos lances bonitos, mas que mostrado de diversos ângulos, realmente parece que ele fez muita coisa, ou pelo menos mais do que fez.
A reação da torcida ao gol também foi dentro do esperado: pessoas babando inconscientes, grudando no alambrado desesperadamente, Ronaldo indo de encontro aos seus fãs.
Também pudera, o conto de fadas ocorria bem diante de seus olhos, o príncipe saía do imaginário e vinha em suas direções.