quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

O mundo Favorito

Assistindo a um dos capítulos da novela "A favorita", me deparei com o conflito central da trama, que gira em torno das personagens Flora e Donatella.
Uma é a heroína, a outra vilã. Não há como negar que as novelas são maniqueístas e o autor faz uma escolha moral por um personagem.
Veja só que coisa esquisita.
O que pude perceber acompanhando alguns dias da novela foi que a Flora é uma personagem psicótica, neurótica, desequilibrada.
Por causa de uma picuinha do passado(aliás, os personagens de novela são estranhamente sempre muito rancorosos), ela resolve perder todo o tempo da sua vida para se dedicar a fuder a dos outros. Ela matou o marido da amiga, ficou presa, saiu da cadeia, voltou a procurar as pessoas do passado, e começou a infernizar a vida de todo mundo, pra quê? Nem ela sabe, mas o fato é que ela tem medo de ficar sozinha e afasta as pessoas de si, Sigmund Freud explica.
Ela vive num embate com Donatella, a antiga amiga. Esta coitada, sofre com a perseguição empunhada pela outra.
Perdeu o marido, quase perdeu o amor da filha, foi pra cadeia, se ferrou a novela toda por causa da carência da amiga.
Mas o que é muito esquisito mesmo, é que a tal da Flora faz todo um showzinho particular, grita, da escândalo, mata, conspira, ironiza. O que ela está fazendo? Chamando atenção pra si. Está no direito dela, é sua carência.
E a outra?
À Donatella coitada, falta um pouco de clareza e sabedoria. Ela entra no joguinho da Flora, grita com ela, sofre, chora, xinga, manda à merda, pede pra parar, pede desculpa, xinga de novo.
Faz tudo, menos o que deveria fazer: desencanar dessa história toda de vingança que realmente não faz bem a ninguém.
Quando a criança é muito mimadinha e faz manha, ou a gente ignora, ou tira uma onda do berreiro pra ver se ela aprende, mas nunca deve gritar com ela, porque entrar no joguinho da criança mimada é o que não pode.
Claro, esse é o mundo virtual.
O mundo real é que a novela precisa de audiência, a trama precisa de algo que sustente essa audiência, e um bom barraco chama mesmo a atenção.
Mas por falar em crianças, gritaria, barraco, vingança, nada disso é bom exemplo de valores que uma criança deva simpatizar no início da vida. Não é lá muito saudável. Assim como as novelas.
A favorita está acabando, mas logo virão outras favoritas, cujo diretor terá algum personagem favorito, e não é o vilão o perigo da história, mas nesse caso o herói.

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá Gustavo !

Interessante o título do seu blog. Permita-me comentar um pouco sobre isso e sobre este último texto, mais recente. Você fala sobre o virtual e o real com relação à novela. Acho que realmente temos que seguir o ideal, se o real não está bom. Acho que não há nenhuma problema na oposição entre bem e mal - ou seja, o tão falado maniqueísmo. Só que a coisa não termina por aí. Temos que entender esse bom, o que é, ou melhor, que diferença ou oposição é essa. O bem está ligado com o ideal. Falo de um ponto-de-vista bem prático, e não meramente filosófico, ok?! Será uma pena, ou melhor, um desperdício de tempo, se as pessoas se posicionarem em relação ao mundo virtual da novela, mas não no mundo do dia-a-dia. Para mim está claro que não podemos aceitar esse mundo real. Temos sim que procurar tranformá-lo de acordo com um bom ideal, algo que realmente mereça nossos esforços. Como dizia Cazuza, "Ideologia, eu quero uma pra viver." Só que acho que isso não cai do céu, a pessoa tem também que fazer um esforço, desenvolver sua ideologia de vida das formas que estiverem ao seu alcance, até que consiga descobrir algo melhor. Se não há a procura interna, nunca saberemos quando a verdade passar na nossa frente, pois não sabemos como ela é. Mas se a pessoa estiver procurando com afinco e sinceridade, acredito que saberá. E encontrará.